O Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, considera que a «metodologia»
utilizada por Francisco neste Sínodo dos Bispos vai «marcar uma nova fase na
vida da Igreja». O Patriarca de Lisboa falou hoje em conferência de imprensa
sobre os dias que passou no Vaticano, em representação da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP), e fez uma avaliação muito positiva. «O que o Papa inaugurou
foi uma forma de exercer a colegialidade constante, e está a criar uma nova
forma de viver a Igreja. Tudo se falou com a maior franqueza, com muito ímpeto»,
considerou D. Manuel Clemente, que sublinhou o «ineditismo» desta reflexão
sinodal. «Nestas duas semanas o ponto mais salientado foi a bondade, a
importância e a conveniência da proposta cristã sobre a família quando ela é
realmente vivida e devidamente proporcionada, e o contraponto foram as
realidades que hoje se apresentam e que não podemos esconder, colocando a
cabeça na areia», sustentou.
Sobre esses desafios, o Patriarca de Lisboa destacou «a
fragilidade dos vínculos familiares, dos vínculos duradouros, as uniões de
facto, no campo interno da Igreja as famílias que foram reconstituídas
civilmente mas não sacramentalmente e o problema das pessoas com tendências
homossexuais». Estes e outros aspetos apareceram com propostas concretas no
polémico relatório preliminar, feito no final da primeira semana de
congregações gerais, que originou muitas reações negativas, em virtude do
mediatismo que atingiu. «Este impacto provocou um certo recuo nos círculos
menores, que transpareceu nos trabalhos de grupo. As afirmações mais polémicas
foram muito mitigadas, e nos trabalhos de grupo começaram a surgir algumas
questões sobre como colocar estas questões para o futuro, e julgo que a
reconsideração disto em termos de prós e contras levou a que nas votações da
mensagem e do Relatio Synodi esses pontos não tivessem tantos pontos a favor»,
disse o Patriarca, que acrescentou que a reação de «defesa» foi «legítima». «O
relevo desses pontos polémicos era excessivo em relação ao que eu tinha ouvido
nas congregações gerais. Os padres sinodais não se sentiram refletidos no conjunto
desses dois artigos, não tanto pelo conteúdo dos mesmos, mas pela mediatização
que tiveram», disse aos jornalistas.
O facto de não terem sido aprovados alguns pontos com a
maioria de 2/3 necessária não incomoda o Patriarca, que se mostrou satisfeito
pelo facto de terem surgido no relatório final. «O facto de se terem mantido é
muito positivo. Entre o que estava no relatório preliminar e a vontade dos
círculos menores em retirá-los por completo, ganhou o equilíbrio de nem omitir
as propostas, nem dizer que eram a vontade do Sínodo», afirmou o presidente da
CEP.
Questionado sobre este Sínodo teria sido uma forma do Papa
Francisco «apalpar terreno» a eventuais mudanças na Igreja, D. Manuel Clemente
afirmou que desconhecia essa intenção. «Se o Papa Francisco quis apenas testar
o impacto das propostas, ganhou. O aplauso no final do discurso do Papa foi
sinal do apoio que o Papa tem em todo o episcopado mundial», considerou o
prelado.
Assumindo que a doutrina da Igreja não deve mudar no final
deste caminho sinodal, D. Manuel Clemente sempre vai avisando que «a verdade
objetiva» da doutrina «é captada pela relatividade do ser humano», pelo que é
importante perceber que se podem refletir todas as questões. «Também há 50 anos
atrás se achava que o problema da liberdade religiosa não teria solução, e foi
possível encontrá-la», lembrou.
Sobre a necessidade de preparação para o matrimónio, o
Patriarca descartou uma preparação imediata mais longa no imediato, e prefere
um plano mais alargado no tempo que, segundo o próprio, conduzirá a esse
aumento da exigência. «Tem de ser a comunidade a tornar natural essa maior
exigência na preparação para o matrimónio. Para isso, é preciso uma centralidade
reforçada da dimensão familiar nas comunidades cristãs», disse o prelado.
Sobre a formação do clero e a contribuição das famílias,
outra das propostas lançadas durante o Sínodo, D. Manuel Clemente afirmou que «a
ligação do clero com a igreja doméstica está presente desde o início do
Cristianismo, e foi mais longe na proposta dos bispos. «Faz sentido que as famílias
possam dar formação aos seminaristas e também ao próprio clero na sua formação
contínua», concluiu.
0 comentários:
Enviar um comentário