21 de outubro de 2014

Patriarca diz que Sínodo «marca nova fase de vida na Igreja»


O Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, considera que a «metodologia» utilizada por Francisco neste Sínodo dos Bispos vai «marcar uma nova fase na vida da Igreja». O Patriarca de Lisboa falou hoje em conferência de imprensa sobre os dias que passou no Vaticano, em representação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e fez uma avaliação muito positiva. «O que o Papa inaugurou foi uma forma de exercer a colegialidade constante, e está a criar uma nova forma de viver a Igreja. Tudo se falou com a maior franqueza, com muito ímpeto», considerou D. Manuel Clemente, que sublinhou o «ineditismo» desta reflexão sinodal. «Nestas duas semanas o ponto mais salientado foi a bondade, a importância e a conveniência da proposta cristã sobre a família quando ela é realmente vivida e devidamente proporcionada, e o contraponto foram as realidades que hoje se apresentam e que não podemos esconder, colocando a cabeça na areia», sustentou.

Sobre esses desafios, o Patriarca de Lisboa destacou «a fragilidade dos vínculos familiares, dos vínculos duradouros, as uniões de facto, no campo interno da Igreja as famílias que foram reconstituídas civilmente mas não sacramentalmente e o problema das pessoas com tendências homossexuais». Estes e outros aspetos apareceram com propostas concretas no polémico relatório preliminar, feito no final da primeira semana de congregações gerais, que originou muitas reações negativas, em virtude do mediatismo que atingiu. «Este impacto provocou um certo recuo nos círculos menores, que transpareceu nos trabalhos de grupo. As afirmações mais polémicas foram muito mitigadas, e nos trabalhos de grupo começaram a surgir algumas questões sobre como colocar estas questões para o futuro, e julgo que a reconsideração disto em termos de prós e contras levou a que nas votações da mensagem e do Relatio Synodi esses pontos não tivessem tantos pontos a favor», disse o Patriarca, que acrescentou que a reação de «defesa» foi «legítima». «O relevo desses pontos polémicos era excessivo em relação ao que eu tinha ouvido nas congregações gerais. Os padres sinodais não se sentiram refletidos no conjunto desses dois artigos, não tanto pelo conteúdo dos mesmos, mas pela mediatização que tiveram», disse aos jornalistas.

O facto de não terem sido aprovados alguns pontos com a maioria de 2/3 necessária não incomoda o Patriarca, que se mostrou satisfeito pelo facto de terem surgido no relatório final. «O facto de se terem mantido é muito positivo. Entre o que estava no relatório preliminar e a vontade dos círculos menores em retirá-los por completo, ganhou o equilíbrio de nem omitir as propostas, nem dizer que eram a vontade do Sínodo», afirmou o presidente da CEP.

Questionado sobre este Sínodo teria sido uma forma do Papa Francisco «apalpar terreno» a eventuais mudanças na Igreja, D. Manuel Clemente afirmou que desconhecia essa intenção. «Se o Papa Francisco quis apenas testar o impacto das propostas, ganhou. O aplauso no final do discurso do Papa foi sinal do apoio que o Papa tem em todo o episcopado mundial», considerou o prelado.

Assumindo que a doutrina da Igreja não deve mudar no final deste caminho sinodal, D. Manuel Clemente sempre vai avisando que «a verdade objetiva» da doutrina «é captada pela relatividade do ser humano», pelo que é importante perceber que se podem refletir todas as questões. «Também há 50 anos atrás se achava que o problema da liberdade religiosa não teria solução, e foi possível encontrá-la», lembrou.

Sobre a necessidade de preparação para o matrimónio, o Patriarca descartou uma preparação imediata mais longa no imediato, e prefere um plano mais alargado no tempo que, segundo o próprio, conduzirá a esse aumento da exigência. «Tem de ser a comunidade a tornar natural essa maior exigência na preparação para o matrimónio. Para isso, é preciso uma centralidade reforçada da dimensão familiar nas comunidades cristãs», disse o prelado.

Sobre a formação do clero e a contribuição das famílias, outra das propostas lançadas durante o Sínodo, D. Manuel Clemente afirmou que «a ligação do clero com a igreja doméstica está presente desde o início do Cristianismo, e foi mais longe na proposta dos bispos. «Faz sentido que as famílias possam dar formação aos seminaristas e também ao próprio clero na sua formação contínua», concluiu.

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