O Sínodo que terminou este
domingo em Roma marcou um ponto de viragem na Igreja, mas não aquele que muita
comunicação social anda por aí a apregoar. Não foram os conservadores que
ganharam alguma coisa, ou os liberais que libertaram a Igreja da prisão
conservadora em que habitava. A viragem foi precisamente na abertura e na
transparência que se viram durante as duas semanas de trabalho, e até antes. Às
acusações de uma Igreja fechada e “secreta”, o Papa respondeu com indicações
claras: fale-se de tudo sem se esconder nada. E de tudo o que foi falado dentro
de portas foi dado a conhecer fora de portas com uma velocidade e eficiência
impressionantes. Que outra organização, ou estado, consegue produzir documentos
para a comunicação social minutos após serem discutidos, apresentados ou
votados, ou sequer resumos de debates longos? E com a transparência de até
publicar os votos individuais em cada um dos pontos do relatório final? Ou
sequer que permita que todos os participantes falassem abertamente à
comunicação social sobre todos os assuntos que estavam a ser debatidos no
Sínodo, e sobre as suas intervenções?
Hoje em dia, quem quiser estar
informado sobre a Igreja e o que está em causa neste Sínodo, pode fazê-lo,
consultando a muita informação disponível nos meios de comunicação social que,
de forma mais objetiva nuns casos ou mais parcial noutros, mostram os diversos
argumentos e os vários pontos de vista sobre todas as situações mais ou menos
polémicas. Este tipo de abertura é rara nas grandes ou pequenas instituições, e
uma prova de que a Igreja continua, em muitos campos, a estar anos à frente de
outras organizações.
No que toca a conclusões, a mais importante
de todas ficou espelhada no discurso do Papa Francisco aos bispos no final da assembleia
sinodal. «A Igreja é de Cristo – é a sua esposa – e todos os bispos, em
comunhão com o Sucessor de Pedro, têm a missão e o dever de custodiá-la e de
servi-la, não como donos, mas como servidores. O Papa, neste contexto, não é o
senhor supremo, mas sim um supremo servidor – o “servus servorum Dei”; o
garante da obediência e da conformidade da Igreja à vontade de Deus, ao
Evangelho de Cristo e à Tradição da Igreja, deixando de lado todo arbítrio
pessoal, mesmo sendo – por vontade do próprio Cristo – o “Pastor e Doutor supremo
de todos os fiéis” (Can. 749) enquanto gozando “da potestade ordinária que é
suprema, é plena, imediata e universal na Igreja” (cf. Cann. 331-334)». Ou,
trocado por miúdos: “discutam e ponham tudo em cima da mesa, mas não se
esqueçam que o Sínodo é cum Petro et sub
Petro (feito com a presença do Papa e sob a sua supervisão), e no final
quem vai decidir sou eu e todos devem aceitar a minha decisão”.
Com este simples parágrafo, o
Papa Francisco esclareceu toda a discussão e pôs todos no seu lugar, conservadores
e liberais. Porque, no final de contas, o Sínodo é “apenas” um órgão consultivo,
que nada vincula na Igreja. A sua tarefa é a de dar a conhecer ao Papa a
realidade da Igreja e as propostas que cada pastor tem para a Igreja universal.
Neste sentido, foi um Sínodo perfeito, que lançou as bases para, durante o
próximo ano, «amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as ideias
propostas e encontrar soluções concretas às tantas dificuldades e inumeráveis
desafios que as famílias devem enfrentar», como também referiu o Papa no seu
discurso.
Agora é tempo de olhar para o
relatório final e refletir sobre as propostas que lá são feitas, que davam toda
uma outra reflexão. O Papa agradece o contributo de todos, e não rejeita
nenhuma opinião. Sempre sabendo que, no final, é a opinião dele que será
vinculativa, nenhuma das outras…
Texto: Ricardo Perna
Jornalista da Revista Família Cristã
Foto: News.va
Texto: Ricardo Perna
Jornalista da Revista Família Cristã
Foto: News.va
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