8 de outubro de 2014

Papa não quer decisões para as «pessoas aplaudirem», mas sim «processos» que deem «frutos»


D. Victor Fernández, reitor da Universidade Católica Argentina, afirmou hoje aos jornalistas que o Papa não pretende que o Sínodo «produza decisões para as pessoas aplaudirem, mas que inicie processos, mais do que forçar decisões, e que esses processos produzam os frutos no tempo adequado». Esta foi uma resposta dada aos jornalistas que perguntavam por decisões ou hipóteses concretas a serem debatidas nas congregações gerais do Sínodo que decorre no Vaticano.

Questionado sobre a forma como a lei da gradualidade pode ser aplicada a casos concretos na Igreja, D. Fernández explicou que «o ideal que temos e que não devemos desistir choca com a realidade concreta das pessoas» e deu o exemplo da poligamia, um dos assuntos muito debatidos na aula sinodal, em virtude da intervenção, hoje, de muitos bispos africanos. «Em situações como a poligamia, que não podemos aceitar por causa da dignidade da mulher que defendemos, é preciso entender o que é possível fazer. O homem não pode simplesmente mandar embora as outras mulheres, que vão ser discriminadas e abandonadas, pelo que é preciso entender como abordar esta questão», sustentou.

O bispo argentino confirmou que o ambiente na sala é de respeito por todos, coisa que, aliás, o Papa tinha pedido. «Podemos falar o que quisermos, que o Cardeal Müller [Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé] não virá atrás de nós», gracejou o prelado, que voltou a referir a necessidade de defender a indissolubilidade do matrimónio. «Não podemos retirar a indissolubilidade do matrimónio, pois a mensagem de que o vínculo apenas se quebra com a morte é uma bela imagem. A maior parte dos padres sinodais concorda com a ideia, mas outros insistem no realismo de acompanhar o sofrimento dos outros, porque também Jesus chegava a todos», disse aos jornalistas.

Outro dos convidados no briefing diário foi D. Ignatius Ayau Kaigama, arcebispo de Jos, na Nigéria, país que recentemente aprovou uma lei que criminalizava a homossexualidade, e que foi apoiada pela Igreja. Questionado sobre isso, o prelado acusou os media de «apenas verem uma parte da questão». «A Igreja Católica respeita os seres humanos. Nós acreditamos que o casamento é entre homem e mulher, e tudo o resto está errado. Falámos a favor disso, o nosso governo aprovou uma lei que apoiámos, mas foi muito mal entendida. Nós dissemos que apoiavámos o conceito de casamento entre homem e mulher, não apoiámos a criminalização dos homossexuais, e os media apenas apanharam essa parte, e esqueceram que somos ferozes defensores dos direitos humanos, e que a Igreja Católica está na frente desse combate. Nós defenderíamos qualquer homossexual que esteja injustamente na prisão ou sofra violência», garantiu D. Kaigama.

Um dos assuntos debatidos foi ainda a forma como os países desenvolvidos procuram impor a sua realidade cultural aos países africanos, em troca de fundos monetários que cada vez interessam menos aos interesses dos responsáveis desses países. «Somos confrontados com pessoas que nos dizem que nos dão dinheiro se limitarmos os nascimentos, mas quem diz que crescemos demais? Quem diz que precisamos de limitar nascimentos? Nós queremos é educação e bons cuidados, não preservativos ou outros métodos contracetivos…», garantiu o bispo nigeriano.
«Estão a oferecer-nos as coisas erradas, e esperam que aceitemos, só porque somos pobres. Mas a pobreza não é uma questão financeira, e nós não somos pobres no nosso pensamento. Por isso dizemos “Não”, questionamos, e é isso que fazemos em África agora», assegurou o prelado de forma veemente.

Igreja não quer ser farol, mas sim tocha

Sobre os dias de ontem à tarde e esta manhã, o Pe. Lombardi, um dos três porta-vozes encarregues de passar uma síntese dos assuntos aos jornalistas, referiu que os temas mais falados foram a crise na família, a necessidade da «oração e da espiritualidade na vida familiar», a simplificação dos processos de nulidade (sem adiantar pormenores) e um testemunho que trazia uma imagem «positiva» da realidade dos sacerdotes casados nas igrejas orientais, por oposição ao debate da manhã de ontem sobre as dificuldades que esses sacerdotes encontravam.

O sacerdote italiano referiu uma alegoria utilizada no sínodo para descrever a ação da Igreja no terreno. «A Igreja não é farol, uma luz estática que não se mexe, mas sim uma tocha, que caminha com o povo, que está no seu meio a iluminar o caminho», ilustrou.

O Pe. Rosica, outro dos porta-vozes, falou de um ambiente «que não é catastrófico», ao contrário do que o relato das várias dificuldades poderia fazer supor. «Finanças, Migrações, todos os problemas relatados foram encarados com a postura “o que podemos fazer quanto a isto?”, não com uma imagem derrotista, e isto foi algo que me impressionou ao assistir aos trabalhos», referiu o sacerdote.

Os bispos abordaram a questão dos matrimónios civis também numa perspetiva inclusiva. «é preciso tomar atenção aos elementos dos casamentos civis que já existem e que possam conduzir as pessoas ao matrimónio canónico. Em vez de criticar a sua opção, devemos procurar elementos, ou sementes, que existam naquelas relações que os possam trazer até à igreja», referiram os bispos nas suas intervenções, apontando a «linguagem da misericórdia» que João XXIII falava como caminho a seguir na abordagem a estas pessoas.

Sobre os jovens e os problemas que enfrentam hoje com as suas referências, os bispos refletiram sobre a importância que as redes sociais têm hoje na formação da personalidade do jovem. «É preciso estar presente lá, para evitar o possível efeito destrutivo que essas referências lhes podem dar», referiram alguns bispos nas suas intervenções.

Os trabalhos desta tarde vão debater o tema das situações pastorais difíceis. Este será o dia mais esperado por muitas pessoas, pois debater-se-ão os temas dos recasados, das novas formas de família, dos processos de nulidade… poderá acompanhar todas as notícias no seu site www.sinododafamilia.familiacrista.com

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