D. Victor Fernández, reitor da
Universidade Católica Argentina, afirmou hoje aos jornalistas que o Papa não
pretende que o Sínodo «produza decisões para as pessoas aplaudirem, mas que
inicie processos, mais do que forçar decisões, e que esses processos produzam
os frutos no tempo adequado». Esta foi uma resposta dada aos jornalistas que
perguntavam por decisões ou hipóteses concretas a serem debatidas nas
congregações gerais do Sínodo que decorre no Vaticano.
Questionado sobre a forma como a
lei da gradualidade pode ser aplicada a casos concretos na Igreja, D. Fernández
explicou que «o ideal que temos e que não devemos desistir choca com a
realidade concreta das pessoas» e deu o exemplo da poligamia, um dos assuntos
muito debatidos na aula sinodal, em virtude da intervenção, hoje, de muitos
bispos africanos. «Em situações como a poligamia, que não podemos aceitar por
causa da dignidade da mulher que defendemos, é preciso entender o que é
possível fazer. O homem não pode simplesmente mandar embora as outras mulheres,
que vão ser discriminadas e abandonadas, pelo que é preciso entender como
abordar esta questão», sustentou.
O bispo argentino confirmou que o
ambiente na sala é de respeito por todos, coisa que, aliás, o Papa tinha
pedido. «Podemos falar o que quisermos, que o Cardeal Müller [Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé] não virá atrás de nós», gracejou o prelado,
que voltou a referir a necessidade de defender a indissolubilidade do
matrimónio. «Não podemos retirar a indissolubilidade do matrimónio, pois a
mensagem de que o vínculo apenas se quebra com a morte é uma bela imagem. A
maior parte dos padres sinodais concorda com a ideia, mas outros insistem no
realismo de acompanhar o sofrimento dos outros, porque também Jesus chegava a
todos», disse aos jornalistas.
Outro dos convidados no briefing
diário foi D. Ignatius Ayau Kaigama, arcebispo de Jos, na Nigéria, país que
recentemente aprovou uma lei que criminalizava a homossexualidade, e que foi
apoiada pela Igreja. Questionado sobre isso, o prelado acusou os media de
«apenas verem uma parte da questão». «A Igreja Católica respeita os seres
humanos. Nós acreditamos que o casamento é entre homem e mulher, e tudo o resto
está errado. Falámos a favor disso, o nosso governo aprovou uma lei que
apoiámos, mas foi muito mal entendida. Nós dissemos que apoiavámos o conceito de
casamento entre homem e mulher, não apoiámos a criminalização dos homossexuais,
e os media apenas apanharam essa parte, e esqueceram que somos ferozes
defensores dos direitos humanos, e que a Igreja Católica está na frente desse
combate. Nós defenderíamos qualquer homossexual que esteja injustamente na prisão
ou sofra violência», garantiu D. Kaigama.
Um dos assuntos debatidos foi
ainda a forma como os países desenvolvidos procuram impor a sua realidade
cultural aos países africanos, em troca de fundos monetários que cada vez
interessam menos aos interesses dos responsáveis desses países. «Somos
confrontados com pessoas que nos dizem que nos dão dinheiro se limitarmos os
nascimentos, mas quem diz que crescemos demais? Quem diz que precisamos de
limitar nascimentos? Nós queremos é educação e bons cuidados, não preservativos
ou outros métodos contracetivos…», garantiu o bispo nigeriano.
«Estão a oferecer-nos as coisas
erradas, e esperam que aceitemos, só porque somos pobres. Mas a pobreza não é
uma questão financeira, e nós não somos pobres no nosso pensamento. Por isso
dizemos “Não”, questionamos, e é isso que fazemos em África agora», assegurou o
prelado de forma veemente.
Igreja não quer ser farol, mas sim tocha
Sobre os dias de ontem à tarde e esta manhã, o Pe. Lombardi, um dos três porta-vozes encarregues de passar uma síntese dos assuntos aos jornalistas, referiu que os temas mais falados foram a crise na família, a necessidade da «oração e da espiritualidade na vida familiar», a simplificação dos processos de nulidade (sem adiantar pormenores) e um testemunho que trazia uma imagem «positiva» da realidade dos sacerdotes casados nas igrejas orientais, por oposição ao debate da manhã de ontem sobre as dificuldades que esses sacerdotes encontravam.
O sacerdote italiano referiu uma
alegoria utilizada no sínodo para descrever a ação da Igreja no terreno. «A Igreja
não é farol, uma luz estática que não se mexe, mas sim uma tocha, que caminha
com o povo, que está no seu meio a iluminar o caminho», ilustrou.
O Pe. Rosica, outro dos
porta-vozes, falou de um ambiente «que não é catastrófico», ao contrário do que
o relato das várias dificuldades poderia fazer supor. «Finanças, Migrações,
todos os problemas relatados foram encarados com a postura “o que podemos fazer
quanto a isto?”, não com uma imagem derrotista, e isto foi algo que me
impressionou ao assistir aos trabalhos», referiu o sacerdote.
Os bispos abordaram a questão dos
matrimónios civis também numa perspetiva inclusiva. «é preciso tomar atenção
aos elementos dos casamentos civis que já existem e que possam conduzir as
pessoas ao matrimónio canónico. Em vez de criticar a sua opção, devemos
procurar elementos, ou sementes, que existam naquelas relações que os possam
trazer até à igreja», referiram os bispos nas suas intervenções, apontando a
«linguagem da misericórdia» que João XXIII falava como caminho a seguir na
abordagem a estas pessoas.
Sobre os jovens e os problemas
que enfrentam hoje com as suas referências, os bispos refletiram sobre a
importância que as redes sociais têm hoje na formação da personalidade do
jovem. «É preciso estar presente lá, para evitar o possível efeito destrutivo
que essas referências lhes podem dar», referiram alguns bispos nas suas
intervenções.
Os trabalhos desta tarde vão
debater o tema das situações pastorais difíceis. Este será o dia mais esperado
por muitas pessoas, pois debater-se-ão os temas dos recasados, das novas formas
de família, dos processos de nulidade… poderá acompanhar todas as notícias no
seu site www.sinododafamilia.familiacrista.com
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