11 de outubro de 2014

«É necessária uma maior preparação para o Matrimónio»


Diante do alto número de divorciados, é necessária uma preparação maior, personalizada e também severa para o matrimónio, sem medo de ver, eventualmente, uma diminuição no número de casamentos celebrados na Igreja. Este foi um dos aspectos salientados nos trabalhos do Sínodo Extraordinário sobre a Família em andamento no Vaticano. A Rádio Vaticano conversou sobre este tema com o Presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé, Cardeal Giuseppe Versaldi:
 
Card. Versaldi: Os problemas existem, e são resolvidos os que dizem respeito às pessoas em dificuldade após o matrimónio, mas eu quis insistir no facto de que é necessário prevenir as dificuldades e sobretudo os sofrimentos das pessoas, tendo portanto, uma maior atenção à preparação do matrimónio. No Ano da Fé, o Papa disse-nos que a fé – também entre os batizados – não pode mais ser pressuposta e, portanto, é necessário realizar um caminho também doutrinal. Eu insisti sobre o acompanhamento pessoal dos casais, em maneira tal que, não por meio de instrumentos jurídicos, mas através de um acompanhamento pastoral e espiritual, se verifique verdadeiramente se a intenção dos esposos é a de serem introduzidos não ao casamento, mas ao Sacramento do Matrimónio, de modo que depois possam gerir as dificuldades na vida matrimonial. Fracassos existirão sempre, mas assim colocamos uma barreira não para impedir o matrimónio, mas para o tornar não só válido, mas também frutuoso. É melhor ser um pouco mais exigente antes, mesmo que diminuam um pouco as celebrações de casamento, mas que sejam pessoas convencidas de encontrar Cristo e não somente de fazer a cerimónia.
 
Para evitar justamente quem se casa como uma etapa social, concentrada mais na cerimônia e no dia do matrimónio. Depois, quando chegam os problemas, encontram-se despreparados...
Supondo este automatismo entre o fato de que alguém é batizado – e portanto se supõe que tenha a fé – e o Matrimónio, que é outro Sacramento. Certo, o Batismo introduz na salvação, porém é um encontro com Cristo e quem se casa, ao invés disto, acreditando não ter necessidade de Cristo - mas somente porque é uma tradição ou até mesmo um ato folclórico -, se casa validamente, mas depois não consegue administrar a fadiga do matrimónio e então pede a nulidade. O paradoxo então é que a Igreja é generosa no início, admitindo a todos, e depois é severa deixando-os com os seus pesos. Isto não está certo!

Seria necessário, então, ter a coragem de dizer “não” a alguns casais que chegam despreparados ao matrimónio?Mais do que dizer “não”, indicar um caminho: não casem já, mas, façamos um caminho. Agora fala-se tanto dos divorciados e dos recasados e de um caminho penitencial, que é sempre penitencial e doloroso; lá seria, ao contrário, um caminho não penitencial, mas de crescimento, de maturação na fé.

Agir na origem…Agir na origem, fazendo também entender que não podem ir ali pedindo o matrimônio, já fixando a data e pressupondo que se trata somente de uma fórmula: “Aceitas aquilo que faz a Igreja?”; “Sim!”. E depois se passa a saber o que existe por trás daquele ‘sim’.... Estamos a discutir tanto sobre como mudar o ‘depois’ e não discutimos tanto sobre como mudar o ‘antes’. Eu fiz um pronunciamento, mas também outros se pronunciaram neste sentido.
 
Há depois o “pós-matrimónio”. Tem quem sugira um acompanhamento também após o matrimónio dos casais, que frequentemente se casam com pressupostos cristãos e de repente se encontram sozinhos....E alí verdadeiramente é a paróquia, a comunidade paroquial, como família de família, e sobretudo os esposos, mais do que os sacerdotes, que devem acompanhar os casados naquele ponto. É importante o acompanhamento dos jovens esposos por parte de quem já tem a experiência, quem sabe mesmo, de crises superadas. Este é outro ponto intermediário: antes de chegar à ‘vexata questio’ “Damos ou não damos a comunhão aos divorciados-recasados?”, o que certamente é um problema, mas quando torna-se um problema muito generalizado, quer dizer que alguma coisa está errada no início. Se não fazemos uma preparação adequada, devemos depois cuidar dos matrimónios fracassados e a Igreja de “hospital de campanha” torna-se um obituário, onde se fazem as autópsias dos matrimónios defuntos”.


Fala-se muito nestes dias de doutrina e misericórdia, quase como se fossem duas realidades distintas. É realmente assim ou doutrina e misericórdia necessariamente devem caminhar juntos?
A misericórdia é a doutrina da Igreja e a doutrina da Igreja é a salvação: “Não vim para condenar, mas para perdoar”. Todavia, o perdão pressupõe o arrependimento.

Entrevista: News.va

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