O Pe. Duarte da Cunha esteve hoje nas Jornadas da Pastoral
Familiar para falar sobre o Sínodo dos Bispos aos participantes nas jornadas. O
sacerdote português, que é secretário-geral do Conselho das Conferências
Episcopais da Europa (CCEE), faz uma avaliação positiva do relatório final, que
considera «uma manta de retalhos cheia de coisas importantes». «É o resultado
dos assuntos debatidos pelos bispos, é um texto de trabalho, não final, que é
preciso ser lido e relido, mas também complementado com outros textos que devem
ser usados», considerou.
Segundo o sacerdote, «as verdades da família foram
reafirmadas e apreciadas sempre com a preocupação de perceber como anunciar
hoje essas verdades». «É uma das insistências do Papa Francisco. É preciso
acompanhar as famílias para se poder anunciar o Evangelho da família», defendeu
o Pe. Duarte da Cunha.
Falando aos jornalistas no final da conferência, o
secretário-geral da CCEE considerou que a «tónica no acolhimento» esteve
presente nas intervenções e «é explícita» em todo o relatório final do Sínodo,
lançando «desafios de empenho aos agentes pastorais».
Quanto às questões mais sensíveis, o Pe. Duarte da Cunha não
acha que tenha havido novidade. «Surgiu a necessidade de a Igreja passar a sua
mensagem de uma forma mais acolhedora, e isso é bom, mas no conteúdo nada
mudou. Tudo o que foi dito já havia sido dito antes», sustentou o sacerdote
português, que não considera possível grandes alterações em relação a
divorciados recasados ou em relação aos homossexuais. «Dar a comunhão aos
divorciados a recasados não resolve o problema. Aliás, nos países em que isso
se defende com maior vigor, a pastoral de acompanhamento que é feita é tão
pouca que se transforma numa pastoral de indiferença, e não é isso que é o
acolhimento», garantiu o Pe. Duarte da Cunha.
Quanto aos homossexuais, é «essencial que haja acolhimento e
que ninguém se sinta discriminado n Igreja», diz o sacerdote, mas sem com isso
obrigar a que a Igreja mude o seu ponto de vista sobre essas questões. «As
nossas comunidades sempre tiveram pessoas com tendências homossexuais, que
fazem o seu caminho, por vezes com sofrimento, mas lidando com as suas
tendências, da mesma forma que um heterossexual também lida com as suas
questões, e isso já se fazia antes», garantiu o Pe. Duarte da Cunha.
Os desafios do
próximo ano, em vista ao Sínodo
Na conferência proferida esta manhã, o Pe. Duarte da Cunha
referiu três pontos como sendo os desafios do próximo ano, em vista à
preparação do sínodo ordinário de 2015. «É importante olharmos para a antropologia
do ser humano e da família. Temos de compreender a pessoa humana como única,
mas integrada numa rede social», disse o sacerdote, argumentando que a noção de
imediato na sociedade é impeditiva da constituição de família. «Quando deixamos
de desejar o eterno e apenas queremos gozar o presente, somos incapazes de
construir uma família», disse o Pe. Duarte da Cunha.
Um segundo aspeto é o de repensar e recuperar a teologia do
matrimónio. «O que o torna único, como se prepara, como se vive, como se põe a
render as graças, quais são elas. O que faz desse consentimento único e o que
isso implica. Há um diálogo entre o homem que oferece a graça e Deus que a
recebe. Os sacramentos não são só futuro, são presente que acontece. O casamento
indissolúvel é-o porque Deus assim o torna, e não se pode desfazer», considerou
o sacerdote.
Depois destas questões, surge a necessidade de pensar nas
questões deixadas pelo relatório final do Sínodo, que será utilizado como
Lineamenta do sínodo do próximo ano, de pensar na teologia do amor. «Há uma
confusão generalizada sobre o que é o amor. O que se fala nos filmes e nas
novelas não é o mesmo que a Madre Teresa falava. Quando Jesus Cristo diz “amai-vos
como Eu vos amei”, ou seja, deem a vossa vida pela pessoa com quem estão, amar
é dar tudo e dar-se a si mesmo», disse.
Isto porque, defende o sacerdote, o amor não é apenas dar
sem esperar nada receber. «Diz-se que o amor deve ser gratuito, sem esperar
nada contra, mas o amor perfeito é um querer ser amado. Amar e ser amado não
podem ser duas coisas separadas, têm de estar juntas. O amor verdadeiro é um
amor que suplica. Amor gera amor. Amor não é apenas dom, é comunhão», exortou o
Pe. Duarte da Cunha.
Nesta linha de ideias, o Pe. Duarte da Cunha encerrou os
trabalhos defendendo a importância da Pastoral Familiar para a Igreja e para o
homem. «A primeira razão pela qual vale a pena o empenho na família é pela
nossa própria família. Isto não é egoísta, mas é pôr o nosso interesse no
centro. Se estou empenhado em viver melhor a minha vida, os meus irmãos recebem
eco desse empenho e isso é bom para eles», defendeu.
Depois, há a questão da caridade e da evangelização. «Não
posso estar ao lado de pessoas que passam problemas e ser indiferente, tenho de
ter caridade», afirmou, acrescentando que «a família é a melhor maneira de
anunciar Jesus Cristo, é ali que tudo começa». «Onde há famílias cristãs, é
mais provável que haja filhos cristãos», concluiu, avisando que as famílias não
são somente objeto de evangelização, mas sobretudo «sujeitos de evangelização
como seu testemunho».
Texto e Fotos: Ricardo Perna
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