12 de outubro de 2014

Balanço do Sínodo sobre a Família

A primeira semana da Assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispo sobre a Família foi intensa e vai a bom ritmo. Os 253 participantes, entre cardeais, bispos, presbíteros e leigos tiveram oportunidade de «falar claro», como pediu o Papa Francisco. Para que através de «um confronte sincero, aberto e fraterno assumamos com responsabilidade pastoral as interrogações que as mudanças desta época nos trazem».

Este é um acontecimento decisivo e importantíssimo para toda a Igreja e para todas as famílias. Só é pena que as televisões, rádios e jornais generalistas lhe estejam a dar tão pouca cobertura. Sabemos que não são esperadas para já respostas revolucionárias aos temas mais controversos, pois trata-se de um percurso em dois tempos.

Porém, o facto de o Papa pedir que toda a Igreja durante dois anos se junte e reflita sobre a família em colegialidade, é já uma grande novidade e é a primeira vez na história da Igreja que isto acontece. Várias têm sido as abordagens e reflexões aos temas tratados. Basta elencar alguns deles para sentirmos a seriedade e riqueza deste acontecimento eclesial. O Card. Erdó começou logo por sublinhar que a família «está ameaçada por factores desagregadores como o divórcio, o aborto, a violência, a pobreza, os abusos, o pesadelo da precariedade, os desequilíbrios causados pelas migrações». Os padres sinodais também referiram que a Eucaristia «não é o sacramento dos perfeitos, mas daqueles que estão em caminho». Por isso, partilham que não é necessária «uma escolha entre a doutrina e a misericórdia, mas o início de uma pastoral iluminada, para encorajar sobre tudo as famílias em dificuldades, que muitas vezes sentem de não pertencerem à Igreja».

A questão da pobreza, da precaridade do trabalho, o desemprego, a falta de dinheiro e uma habitação decente também foram abordadas no sínodo, sublinhando como aspectos que põem em crise as famílias. Para isso sugeriu-se a importância de uma «ecologia humana» que ajude a minimizar os efeitos negativos da globalização económica, valorizando a Doutrina Social da Igreja. Testemunhou-se também como o fundamentalismo religioso, sobretudo islâmico, impede os cristãos de serem cidadãos com os mesmos direitos que os muçulmanos e com problemas sérios onde existem matrimónios mistos.

Um aspecto curioso é o quase desaparecimento da língua latina e a adopção do italiano como língua “oficial” neste sínodo. Do latim ficaram apenas os nomes dos documentos: Relatio ante e post disceptationem; e Relatio Synodi. A tão esperada questão da comunhão aos divorciados recasados foi bem debatida e das 85 intervenções surgiram duas “linhas” oficialmente reconhecidas: a primeira diz que não é possível admitir aos sacramentos os divorciados recasados; a segunda quer ver através da misericórdia as situações vividas por estes católicos e discernir como abordar as várias situações sem negar a doutrina fundamental, mas encontrar novas formas de pastoral. Onde os bispos poderão ter um papel mais activos nas condições da fé e na vida destas pessoas.

Também se falou sobre a necessidade de uma pastoral para os homossexuais, assente na escuta e na criação de grupos de acolhimento nas paróquias. Fazendo ver que a Igreja não é uma alfândega que deixa de fora os maus e só acolhe os bons, mas é uma casa onde existem famílias sem problemas e famílias em crise. O Card. Coccopalmerio chegou a dizer que é necessário «adoptar a hermenêutica do Papa, que é aquela de salvar a doutrina mas a partir de cada pessoa, da sua situação concreta, necessidades, urgências, sofrimento. Devemos dar uma resposta a pessoas concretas que se encontram em condições graves e urgentes».

Nesta primeira semana do sínodo sublinhou-se ainda o papel importantíssimo dos leigos que «devem ser activos e competente na defesa pública dos valores da vida e da família». Reconhecendo também a urgência de formar adequadamente e permanentemente os sacerdotes e os seminaristas sobre os temas da família. Não ficaram de fora da reflexão o sofrimento de quem perde um familiar, como as pessoas viúvas, os órfãos ou os pais que perdem um filho. Também para estes referiu-se que é fundamental que a Igreja os acompanhe através de grupos de escuta e partilha.

Na segunda semana de trabalhos haverá encontros em círculos menores, divididos por línguas, onde os participantes continuarão a trabalhas estes temas em vista do documento que será aprovado em assembleia e entregue ao Papa. Continuemos a acompanhar este momento tão importante para todos nós com interesse e oração.

Texto: Pe. José Carlos Nunes
Superior regional dos Paulistas
Foto: Ricardo Perna e Salt Light TV 

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