7 de outubro de 2014

Família: Ideias básicas

O Sínodo extraordinário sobre a Família, começado no dia 5 de Outubro de 2014 e que só terminará em 1915 com a segunda parte deste mesmo Sínodo, suscita em todos, genericamente, ansiedade, expetativas, surpresa e alegrias.
Desde já alegrias. Todos reconhecem que este tema toca com as fontes da fé, e estas são as palavras da sagrada Escritura. A Igreja, por isso, nunca poderá deixar de proclamar a Palavra de Deus sobre a família e os alcances, espiritual, social, comunitário e geracional desta. Com decisão e firmeza, a Igreja quer dizer uma palavra própria, e por isso terá que estudar e excogitar o que genuinamente diz a Sagrada Escritura sobre a família. E diz muito; e coisas muito essenciais que só fazem bem à vida e às sociedades humanas.

Há de propô-las com a “alegria do Evangelho” e a ânsia de chegar validamente a todos, e especialmente aos últimos ou aos marginalizados ou desiludidos da vida – sobretudo da vida familiar. Acerca desta realidade, há uma brecha – uma gravíssima brecha – que transversalmente tem a ver com o mundo inteiro. Parece que ninguém escapa dela. Duma maneira ou de outra: por medo que lhe suceda, o mais das vezes o inevitável; devido a feridas que já sangraram e muitas delas, infelizmente, até se repetiram; por acomodamento ao que a sorte lhes ditou; pela inevitabilidade da situação em que se encontram em que muitas vezes não têm saídas, ou se as têm, são muito difíceis de conseguir...

Por conseguinte, a Igreja terá que esmiuçar a Boa Nova bíblica e evangélica sobre a Família, da forma mais clara e precisa possível, inspirando-se no exemplo e na pessoa de Jesus, o qual não se coibiu de reclamar o que para Ele era inevitável e inquestionável: a fidelidade ao projeto de Deus Criador e instituidor do matrimónio, tal como vinha desde “o princípio” (cf Mc 10,6-9). Conseguirá a Igreja construir um discurso segundo o agrado de Deus que, ao mesmo tempo, seja fonte de alegria, de inspiração e de paz para todos?

Este é o grande repto e desafio que o Sínodo coloca à “grande Igreja”. Será ela ainda capaz de galvanizar e chamar a atenção sobre o sentido da família e do matrimónio, tal como a Igreja o concebe (e reforma!) sob inspiração da Palavra de Deus? Naturalmente que neste capítulo não vivemos no melhor dos mundos, bem sabendo que o mundo anseia ouvir da Igreja uma Palavra estimuladora e de consolação.

Estes vão ser os temas que obrigatoriamente terão de ser tratados, segundo a nossa perspetiva acabada de explicar: o amor mútuo de adultos, com vinculação estável de pessoas (especialmente homens com mulheres); o acolhimento e educação pessoal dos filhos num contexto de maturidade afetiva ou relacional (sem esta, a paz e a concórdia acabam no mundo e toda a humanidade pode cair no risco duma opressão de alguns ou duma violência que a todos atinge); o problema da identidade pessoal e individual, comunitária e social (sem esta, os seres humanos podem suicidar-se e fá-lo-ão, se não se cuidar da família).

Na vigília em favor do Sínodo realizada na Praça de S. Pedro, sob organização da Igreja italiana, também o próprio Papa Francisco falou no mesmo sentido: «O Papa olhou para o Sínodo e fez dele um sonho, “um sonho essencial de estabilidade, e uma porta aberta". Uma história, a da salvação, e a da família, "à qual se pertence: a comunhão de vida entre os esposos, a sua abertura ao dom da vida, a guarda recíproca, o acompanhamento educativo ou a transmissão da fé, contribuem para uma sociedade mais justa e solidária. Temos uma ocasião providencial para renovar, a exemplo de S. Francisco, a Igreja e a sociedade. Com a alegria do Evangelho apontaremos o caminho de uma Igreja reconciliada e misericordiosa, pobre e amiga dos pobres, com capacidade de vencer, com paciência e amor, as aflições e as dificuldades que vierem tanto de dentro como de fora». Assim falou o Papa Francisco na vigília do Sínodo.

E qual o caminho que os Padres sinodais deveriam adotar ou abrir para aqui se chegar? A História da Igreja até ao terceiro século indica-lho claramente pela maneira como trataram e (re)admitiram na Igreja os pecadores inscritos em práticas penitenciais muito difíceis. Os doutores e professores da fé daquele tempo, uma vez mudados em Pastores (bispos e papas), ofereceram a medicina da misericórdia, quando antes dos mesmos só havia aplicação moral ou legal contra os prevaricadores. Se a história do sacramento da penitência nos ensina esta intuição e mudança evangélica, agora é só mudá-la para ser aplicada à questão familiar.

P. Mário José dos Santos, SSP

0 comentários:

Enviar um comentário